Com a recente popularização da fosfoetanolamina como uma forma de tratar o câncer, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) financiou e, posteriormente, reuniu cinco estudos sobre a ação da droga. O objetivo era analisar a segurança e a eficácia da que já é conhecida como “pílula do câncer”. Veja a seguir o que eles descobriram.
A fosfoetanolamina foi inicialmente estudada na USP pelo Professor Doutor Gilberto Orivaldo Chierice que, segundo a própria instituição, passou a pesquisá-la independentemente, uma vez que a universidade não assumiu a titularidade dos estudos desenvolvidos por ele.
Até o ano de 2014, as cápsulas de fosfoetanolamina eram distribuídas no Instituto de Química da USP, em São Carlos (São Paulo), mas a situação mudou depois que a justiça proibiu essa prática.
A decisão foi decorrente da ausência de estudos científicos que comprovassem a eficácia da droga e a sua segurança, ou seja, não se sabia se ela realmente combatia o câncer ou se ela não apresentava outros riscos à saúde.
Os relatórios encomendados pelo MCTI avaliaram a ação da substância através de amostras de tecido, ou seja, células trabalhadas em laboratório. Os pesquisadores chegaram às seguintes conclusões:
De acordo com as informações do rótulo do produto, cada cápsula conteria 500 mg de fosfoetanolamina sintética. Mas os avaliadores encontraram algo diferente. De acordo com os achados, o peso do conteúdo de cada cápsula varia de 233 mg a 368 mg.
A quantidade de fosfoetanolamina em cada unidade da droga também não batia com as informações da embalagem: a fosfoetanolamina correspondia a apenas 32,2% do total. Do restante, a mistura era composta por monoetanolamina protonada (18,2%), fosfobietanolamina (3,9%) e outros componentes como ferro, zinco, e manganês.
Os resultados mostraram que apenas a monoetanolamina apresentou atividade citotóxica e antiproliferativa, ou seja, foi capaz de deter o crescimento do câncer. No entanto, a ação, segundo o relatório final, é muito menos potente que a do conjunto Cisplatina e Gencitabina, drogas que já são utilizadas para tratamento do câncer.
A fosfoetanolamina e a fosfobisetanolamina não apresentaram nenhuma atividade contra o câncer.
O relatório final mostrou que a dose única de 5.000 mg/kg via oral ou as doses repetidas (cada uma com 1.000 mg/kg) durante 7 dias não apresentou indicativos de toxicidade, o que pode indicar que a droga não seja perigosa à saúde.
Apesar de darem indícios sobre a real ação da fosfoetanolamina no câncer e da segurança de seu uso, os atuais achados não são suficientes para determinar de maneira definitiva se a fosfoetanolamina se tornará ou não um medicamento para tratar o câncer.
Um dos relatórios enviados ao MCTI sugere que sejam realizados testes in vivo, ou seja, em pessoas ou animais, para determinar como a substância se comporta quando influenciada pelo metabolismo.
Além disso, apenas estudos de longa duração serão capazes de dizer quais são os efeitos da fosfoetanolamina a longo prazo e se ela tem, de fato, um impacto na sobrevida desses pacientes.